Um dia, ao abrir as gavetas do meu arquivo
fui tomada por um cheiro forte de vinagre.
Sem pensar, comecei a abrir as pastas, os envelopes.
E, diante dos meus olhos, surgiram ondas de películas fotográficas,
úmidas de histórias. Quase trinta anos de trabalho…!
Encontros se desmanchando.
Os negativos, feitos de materiais orgânicos (gelatina,
petróleo, aletos de prata, sais) tudo perecível…mutante.
E os escritos? As cadernetas de anotações?
As identificações e tudo mais?
Também foram se cobrindo de vestígios.
[...]
Anos de um relógio silencioso deixaram cicatrizes, como os
sulcos no leito das estradas, as curvaturas que o tempo imprime
em nossos dorsos.
…Enfim, o cotidiano, sempre em combustão.
Mas, a umidade deu vida a outros seres
que agora moram na gelatina dos negativos,
nas fotografias amareladas e abraçam os papéis das cadernetas.
Invisíveis e calados, desenharam durante anos,
uma nova pele para essas histórias.
Seguem, nesse itinerário de reinvenções.
Paula Sampaio
Agosto de 2018
Período: Agosto e setembro de 2018
Suporte: Livro